quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Capela de Nossa Senhora de Tróia


Pedro de Azevedo, na revista O Arqueólogo Português, de 1897, fala da existência de um ermitão – e, portanto, de uma ermida – em Tróia, em 1482, baseado num documento da chancelaria de D. João II. Quer isto dizer que a festa já era celebrada há mais de 500 anos... Como prova histórica de tudo isto, existe ainda a porta que separa as duas pequenas sacristias da capela actual, num gótico tardio de finais do século XV e que certamente integrava a capelucha de então.

A visitação da Ermida de Nossa Senhora de Tróia, de 1510, feita pela Ordem de Santiago (Fundação Gulbenkian, 1969) fala do recheio e de alfaias da capela (bastante volumoso) e do abandono em que caíra a mesma capela, nessa altura, consequentemente, há cinco séculos. A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, fundamentando-se em André de Resende, no seu De Antiquitatibus Lusitanaiae, afirma que já existia a capela nos finais do século XVI, em que se celebrava a festa de Santa Maria de Tróia. Esta referência indica-nos que estas festas foram sempre dirigidas a Nossa Senhora, mas com invocações muito diferentes, de século para século.

Pinho Leal, em Portugal Antigo e Moderno, também aponta para finais do século XVI a fundação da capela. Vê-se que estes dois autores desconheciam as fontes anteriores.
Frei Agostinho de Santa Maria, em Santuário Mariano, de 1707, fala de uma festa a 15 de Agosto na capela de Tróia, feita pelos moradores de Setúbal.

O Pároco de São Sebastião, em Informações Paroquiais, de 1758, cita duas festas em Agosto, celebradas em Tróia, uma de camponeses e outra de marítimos, sob o nome de Nossa Senhora dos Prazeres, sendo ele responsável pela Península de Tróia. O capelão, diz ele, foi colocado ali por D. João V.

M. M. Portela, no Diário Histórico Setubalense, de 1915, fala da trasladação, em 1853, de uma imagem de Nossa Senhora de Tróia para Setúbal, que estava na capela junto das ruínas de Cetóbriga.

O Elmano, de 10 de Setembro de 1898, noticia a reconstrução da capela e o regresso da imagem depois de ter estado 45 anos na capela de Nossa Senhora da Boa Morte.

Quer dizer que, entre 1853 e 1898, a capela situada nas ruínas, no mesmo local em que está hoje, esteve degradada. Poucos dias depois, fala da festa de pescadores, presidida pelo pároco de Melides. O jornal O Trabalho refere-se à festa de Tróia, em 1901 e 1902.


Entre 1902 e 1929 escasseiam documentos e a imprensa local é omissa. Este facto – praticamente até 1945 – pode dever-se ao facto de a festa ser feita pelo pároco de Melides, não pertencendo a Setúbal, diz Jaime Pinho, em Entre Urzes e Camarinhas, as festas da Arrábida e de Tróia.

No entanto, João Afonso Lopes (o "João Sacristão"), homem bem informado e testemunha ocular, afirma que a última vez que a festa foi feita foi em 1928 – tinha ele 14 anos – e que não voltou a fazer-se até que, em 1945, os sacristães da cidade, liderados por ele, retomaram a festa, a 15 de Setembro, presidida pelo padre Nabais, dos Padres do Coração de Maria, organizando eles a festa até 1947.

Em 1948 entregaram-na aos pescadores que a têm organizado até aos dias de hoje.

Descrição: Da capela primitiva do séc. XV resta apenas um arco gótico. Na sacristia existe um ex-voto pintado por F. A. Flamengo no início deste século. A capela só se encontra aberta no mês de Agosto, durante a festa, altura em que se realiza uma procissão.

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